sábado, março 13

Um Norte, um norte... - Ao som de Feijoada Brasileira de Chico Buarque eu contemplo e lamento o caos. Derrama-se sangue como se respira. São cenas de invasões bárbaras, atentados inescrupulosos, assassinatos em série, franco-atiradores, desigualdades intermináveis, mortes e mais mortes, enfim. Parece até que perdemos o eixo, o compasso do que haveria de ser civilizado. Nem antropólogo nem sociólogo eu resto, apenas defenestrado, talvez. Cansei de acreditar, pelo menos hoje, na utopia de uma vida menos crua que essa a nos solapar a esperança diária de cada dia. Todo dia ela faz tudo sempre igual. Além disso tudo, nosso cotidiano ainda testemunha a profusão absurda de pseudo-celebridades instantâneas, que nos estapeiam a face já dorida em desfiles de intermináveis corpos mutilados pelo gosto do consumidor. Também sob a égide da mediocridade caminha a humanidade, a passos surreais cuja construção é de fazer inveja ao melhor de Buñuel. Paradoxalmente, são várias as lágrimas que vertem dos olhos atônitos, tristes espectadores de um espetáculo non sense. Talvez ávidos estejamos em nos encontrar a delicadeza perdida. Há, entretanto, um matiz profundamente lírico nesse quadro de dor, presente nas lacunas que a devastadora realidade não preenche.
Hoje eu não quero nada além de uma simpática cerveja gelada. Desejo também um beijo. Diz a ela que eu entrego os pontos. Aliás, gize-se que não deve haver nada mais honesto do que um beijo apaixonado, enquanto o mundo, estático, adormece lá fora. Hoje, apenas, hoje. Olhar nos olhos da mulher amada e me enxergar em algum canto do mundo, do universo que são eles. Nem que seja por um breve segundo. Um efêmero e eterno segundo, no qual percebo meu reflexo indefeso e me permito acreditar num futuro menos sanguinolento. Amanhã vai ser outro dia, meus caros amigos. Amém.

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Porque escrevo

Cada um tem a sua terapia. Há os que correm, pintam, cantam... Minha maior terapia é escrever. Posso ser o que sou, o que nu...