terça-feira, maio 27



Round Midnight - O Começo do Fim - O Cenário: Noite Afora, lúdico bar em Fortaleza/CE, em cujo solo repousam, além das tradicionais mesas de devaneios etílicos e gastronômicos, várias outras de sinuca. Os seus frequentadores dividem-se entre os jogos e um chope gelado acompanhado de uma simpática música ao vivo. De quebra, o letárgico e infelizmente obrigatório observar dos bólidos que trafegam por uma das vias mais movimentadas da capital alencarina. Em seu âmago, de vez em quando a atenção masculina é seqüestrada pela beleza inefável das freqüentadoras, pois muitas se lançam em disputadas partidas de bilhar devidamente indumentadas em modelitos que favorecem o súbito descontrole do raciocínio de seus pretensos algozes de mesa, amealhando olhares furtivos e buliçosos de uma platéia embasbacada.
As personagens à mesa de chope: Vanessa, Fábio, Leonardo, Paulo Germano, Carol, João Wilson e este humilde escriba.
Os respectivos coadjuvantes: O amor, o sorriso, a perspicácia, a doçura, a alegria, a leveza, a dúvida. Além disso, há música.
O enredo: Após ter meus sentidos admoestados pela beleza em seu estado mais puro, destilando-se homeopaticamente em olhares e movimentos lentos e graciosos, entre um embate e mais outro, locupletando-se dos meus sentidos mais retos, sou arrebatado pelos acordes da música que preenche os espaços vazios de minha combalida mente. Ávida e tropegamente, tento buscar-lhe, mesmo num galope paradoxal, a frase que me encanta sempre que a ouço. Não consigo, pois confundia-lhe a fonte com "Vento no Litoral". A regra número um para se chegar ao começo do fim de um relacionamento está contida na letra desa música, tergiverso aflito. Reflito em verso e até em prosa mas não desembaraço minhas lembranças, torturado que estou pelo seu olhar pérfido que me desnudava a máscara cansada de guerras. "Andréa Dória", murmurava-se bem longe a voz da unanimidade que me ladeava à mesa, demonstrando não ser burra, embora rodriguiana a seleta turma que fitava-me a lenta imersão solidária com o título musical. Procurava ajuda na lua que se escondia entre os pilares do prédio distante, na réstia de espaço que ainda lhe é permitida a aparição meteórica. "Alguém que depois não use o que eu disse contra mim..." surge numa imaginária simbiose de letras e notas musicais enquanto, já no carro, embalado pelo coro que havia ouvido em uníssono dos meus cúmplices notívagos, eu percebo que há mais música num único olhar, do que muitas vezes o há em toda uma canção.

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Cada um tem a sua terapia. Há os que correm, pintam, cantam... Minha maior terapia é escrever. Posso ser o que sou, o que nu...